quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Violões, e muita emoção.

Eu era moleque ainda, e queria aprender a tocar violão. Então,  um dia achei um violão velho, esquecido nos fundos de uma igreja onde participava de um grupo de jovens e tambem trabalhava como auxiliar de escritório. Perguntei ao padre se tinha dono, e ele disse que não, que estava ali abandonado fazia algum tempo e se eu quisesse poderia ficar com ele. O bichinho estava meio castigado, mas o levei até um luthier recomendado por amigos e após o conserto, comecei minha jornada atrás do aprendizado. Uns acordes com os amigos aqui, umas aulas quando podia pagar ali,  e ia levando. Mas foi a curiosidade e a as dicas de audição dadas por um velho professor chamado Daniel Damasceno, que me acenderam a luz da paixão definitiva pelo instrumento. Meu pai costumava dizer em tom de desafio:"Quero ver é você  'debulhar' as cordas". Eu não sabia muito bem o que ele queria. Então eu tive o primeiro contato com um moço chamado Baden Powell. Eu estava assistindo um programa de entrevistas na televisão e ele apareceu. Quando ele começou a tocar eu tive instantâneamente a revelação. E disse para mim mesmo: " é isto que meu pai fala. Ele está debulhando as cordas do violão" . E desde então meu olhar sobre o violão não foi mais o mesmo.
Aí eu entendi que debulhar significava fazer mágica com os dedos. E Baden Powell fazia isto. Não é à toa que ele era conhecido na Alemanha com "dedos mágicos". Mas foi isso que o violão passou a significar para mim...magia. E particularmente o violão brasileiro. Orgulhosamente podemos dizer que criamos uma escola, baseada em mestre de altíssimo kilate. E Baden não foi o primeiro e nem foi o úlimo graças a Deus.
Turíbio Santos...Eu sempre o vejo como um professor abnegado, além de virtuose. Falo assim porque já escutei ele dandos umas dicas preciosas, apenas ao conversar. E não esqueci jamais. Claro que tenho um vinil onde ele toca os "doze estudos para violão e o choro número um" de Villa Lobos. Então quando se falar de Turíbio, diga-se "o erudito". Mas o universo de nosso violão é sem fim. E nada como um violão ao fim da tarde. Falando manso e carinhoso. Com cheiro de café sendo coado. Violão lembra alpendre, não sei porque. 
Dilermando Reis...parece que ainda sou recém chegado do interior. Cheio de saudades dos riachos e dos passarinhos cantando na goiabeira. Não tem nada mais brasileiro que o violão de Dilermando. É preciso que se ouça, se compre os discos de Dilermando. Não dá pra explicar a emoção de ouvir seu violão. Tivesse eu direito a mais dez vidas, eu as dedicaria a estudar a música destes gênios loucos do violão. 
Ah, e tem aqueles que fazem tudo parecer fácil. Assim fazia o saudoso Raphael Rabelo. Aí eu dizia, pôxa, não deve ser tão difícil assim, ele faz tudo tão suave e poderoso ao mesmo tempo. Vou estudar mais. Obrigado gênio Raphael. Ainda estou tentando.
E esse grande mestre chamado Paulinho Nogueira. Ensinou a Toquinho, e eu tentei pegar carona nas lições. Ainda navego em seus acordes. Tenho as partituras de seu livro. De vez em quando eu tento. Nada é tão tranquilo quanto este moço era ao violão. Parecia um pai tocando. Sua benção mestre.
Bom, este menino Paco de Lucia não é brasileiro. Mas é uma da minhas grandes influencias no ato de ouvir violão. Foi meu segundo disco de violonista que comprei lá pelos anos oitenta, quando comecei minha jornada pelo mundo do violão. Então ele tem lugar cativo em meu coração. E é sem dúvida um dos maiores nomes no violão flamenco. Olé.

Até e abraços.

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